Trás-os-Montes é uma docuficção (com elementos etnográficos) portuguesa de 1976, realizada, escrita e produzida por António Reis e Margarida Cordeiro. É protagonizada por rlrnco de atores não-profissionais, habitantes de localidades em Bragança e Miranda do Douro, que interpretam versões ficcionalizadas de si mesmos e dos seus antepassados. A longa-metragem retrata personagens típicas da Terra Fria, o nordeste montanhoso de Portugal, inventariando hábitos seculares, num ambiente rural majestoso.
O filme foi estreado comercialmente nos cinemas de Portugal a 11 de junho de 1976, e de França, a 22 de março de 1978. A linguagem fílmica acentuadamente poética, distinta da narrativa clássica, fizeram de Trás-os-Montes uma das obras com maior impacto no cinema português, não só no movimento do Novo Cinema, como no legado nas docuficções portuguesas. A produção resultou também numa média-metragem documental para a RTP, intitulada Domus de Bragança.
Enredo
Ouve-se um chamamento, entrecortado com assobios, junto de figuras antropomórficas inscritas numa rocha, remontando ao II e III milênio a.C. As raízes históricas de Trás-os-Montes são ancestrais e inscrevem-se na tradição galaico-portuguesa. O rio Douro e o seu enquadramento agreste são o cenário natural de uma paisagem humana rica em tradições e práticas sociais que se perdem no tempo. Numa aldeia do Douro, um rapaz entra numa casa, onde se ouve uma mulher de negro a contar a história da Branca-Flor a duas crianças que comem uma romã. Nessa noite, um comboio chega a uma estação transmontana.
Luís brinca com uma bola, um presente do seu pai, que chegou no dia anterior do Porto. Com os amigos, decide ir jogar para a rua. Passam por um baile de aldeia, onde Luís diz ao amigo Armando que uma das raparigas de negro se parece a sua irmã. Armando comenta que não a vê desde que ela se casou. Os rapazes perseguem gansos que os levam até à ribeira. Nas margens brancas, divertem-se a atirar pedaços de gelo contra a água.
Quando Luís regressa a casa, a sua mãe, Ilda, diz-lhe que pode ir à Casa Grande. Com Armando, o rapaz aventura-se pela Casa Grande, espreitando pelas janelas, olhando para retratos emoldurados, descobrindo estantes, até que encontram uma grafonola. Ao regressar a casa, os jovens descrevem o que encontraram.
Luís lava-se na pia de um lavatório de ferro e pergunta a Ilda como era o avô, de quem não se lembra. Com flores brancas nos braços, a mãe acompanha o filho por caminhos repletos de neve até chegar ao cemitério. Quando Luís torna a fazer perguntas sobre o avô, Ilda conta-lhe que ele foi para a Argentina e que só o conheceu aos dez anos. Na altura, vivia com a mãe e a avó, que um dia a chamam para ir mudar de roupa para conhecer o pai. Vê-se depois a despedida: um homem monta o cavalo e afasta-se num longo caminho, sempre acompanhado pelo aceno de Ilda, em criança.
Quando Luís acorda, veste umas roupas medievais. Sai com Armando, vestido de igual forma, para passear pelo campo e apanhar lenha. Os rapazes atravessam uma ponte, continuam a correr pelos campos e brincam às escondidas. Numa gruta, encontram uma donzela e a sua aia. Elas pedem-lhes que não regressem a casa, porque na aldeia ninguém os reconhecerá. Os jovens atravessam a ponte em sentido contrário e veem Montesinho, mas a aldeia ao longe não parece a mesma. À chegada, perguntam a uns idosos pelas suas casas, do Armando Manuel e do Luís Ferreira, e os velhos respondem-lhes que eles morreram há muitos anos e que são os seus antepassados na sétima geração. Os jovens perguntam-se se o seu passeio não terá durado centenas de anos. Na Domus Municipalis de Bragança, lê-se a carta de 1339 em que D. Diniz dá, a Branca Lourenço, a sua vila de Mirandela.
A mãe de Armando chama o filho para escreverem uma carta ao pai. A criança escreve enquanto a mãe dita: diz que estão bem, têm muitas saudades, andam a tratar das crias de vitelo e que o dinheiro é pouco. São os idosos, mulheres e as crianças, trabalhadores da agricultura de subsistência e do coletivismo pastoril, os que ficaram. Enquanto as crianças brincam, os mais velhos falam sobre a violência do trabalho das minas.
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