O Abominável Dr. Phibes
Dirigido por Robert Fuest em 1970.
Na trama situada na Londres da década de 1920, médicos têm sido assassinados em circunstâncias bizarras. O assassino é o enigmático Dr. Anton Phibes (Price), um musicista dado como morto em um acidente de carro, enquanto dirigia para ver a sua esposa Victoria (Caroline Munro), que também havia sofrido um acidente, e estava recebendo atendimentos médicos, falecendo durante uma cirurgia para salvá-la. Inconformado, Phibes culpa a equipe médica pela morte de sua esposa, e passa a matá-los um por um, com a ajuda de sua misteriosa assistente Vulnavia (Virginia North), baseando cada crime em uma das pragas bíblicas do Egito.
Escrito por James Whiton e William Goldstein, O Abominável Dr. Phibes abraça com gosto a sua natureza exagerada, seja nos assassinatos altamente elaborados planejados por Phibes, seja nos discursos quase shakespearianos dados pelo vilão do título para a sua esposa morta. Há uma autoconsciência muito forte do roteiro do quão hiperbólica é a sua história, o que permite ao texto divertir-se com o exagero. Isso também pode ser percebido na forma como o filme trata a investigação conduzida pelo Inspetor Trout (Peter Jeffrey), o primeiro a perceber uma conexão entre os assassinatos cometidos pelo Dr. Phibes. Há uma boa quantidade do típico humor ácido britânico nas sequências investigativas, que além de divertido, funciona como mais um reforço do quão absurdo e surreal é a campanha de assassinatos conduzida pelo antagonista. A criatividade nas sequências de assassinato também são dignas de nota, especialmente pela forma como referenciam as pragas bíblicas.
A estética do filme acompanha toda a loucura sangrenta proposta pelo roteiro. A direção de artes abusa de cores fortes e extravagantes para construir a sua identidade visual. Basta reparar, por exemplo, na decoração presente no teatro abandonado que serve de covil para Phibes; um ambiente construído em estilo Art Deco, cheio de detalhes dourados e vermelhos, pra não falar do grande órgão enfeitado com neon roxo ocupando lugar de destaque no cenário. As cenas de assassinato seguem essa característica, vide a cena situada em um baile de máscaras multicolorido, em que um homem tem a cabeça esmagada por um mecanismo escondido em uma máscara de rã, onde o sangue vermelho mancha o verde vivo da máscara.
A direção de Fuest e a montagem colaboram com o clima quase absurdo perseguido pela narrativa. As cenas onde Phibes e Vulnavia dançam sozinhos ao som da orquestra mecânica do vilão ajudam a construir o clima de insanidade e exagero da obra, já que essa mesma dupla é responsável por uma campanha de homicídios. Tais cenas poderiam facilmente soar soltas, mas a boa montagem consegue inseri-las sem roubar o ritmo do filme. Também é interessante observar como Fuest consegue dar um ar perturbador para as sequências de assassinato, mas sem abrir mão do caráter farsesco do longa metragem.
Mas O Abominável Dr. Phibes é mesmo o show de Vincent Price. Anton Phibes guarda muitas semelhanças com os personagens atormentados que o ator se acostumou a interpretar, mas Price ainda entrega um desempenho bastante particular no papel. O grande vilão da obra teve o rosto desfigurado no acidente que quase o matou, e para escondê-lo, usa uma máscara que simula o seu antigo rosto. O personagem só é capaz de falar por um dispositivo que conecta o seu pescoço á um gramofone, dando a Price a chance de criar um contraste interessante entre os discursos apaixonados e melodramáticos de Phibes com a expressão praticamente congelada em seu rosto (ele nunca abre a boca), resultando em uma atuação bastante calcada na expressão corporal e no olhar.