“45 do Segundo Tempo” é um filme brasileiro de 2022, dirigido por Luiz Villaça. O roteiro é assinado por Leonardo Moreira, Luiz Villaça, Luna Grimberg, Rafael Gomes e Vinicius Calderoni. O elenco conta com Tony Ramos, Cassio Gabus Mendes, Ary França e Denise Fraga, entre outros.
O filme é do gênero comédia dramática, sobre as escolhas, a amizade e a redescoberta do presente, ao revisitar o passado.
Pedro (Tony Ramos), um caótico dono de restaurante, muito orgulhoso de suas heranças italianas, vê-se em crise existencial, velho e solteirão, quando seus negócios parecem ruir de vez. Entendendo que não há mais razão para viver, ele decide escolher um bom dia para cometer suicídio — se tudo der certo, com o Palmeiras sendo campeão brasileiro de futebol — e reúne-se com dois amigos dos tempos do colégio, que não via há mais de 40 anos: Ivan (Cássio Gabus Mendes), um advogado de figurões endinheirados, e Mariano (Ary França), um padre em crise de fé.
A surpresa com as escolhas de carreira de ambos, o primeiro um idealista militante antissistema, e o segundo um boca-suja de primeira linha, só não supera a estranheza de um reencontro tão tardio. Quando revê os amigos, Pedro ainda os trata como se fossem os mesmos garotos com quem jogava bola, no tradicional colégio paulistano Dante Alighieri. Os dois, envergonhados pela dissonância entre quem eram e quem se tornaram, meio que seguem o fluxo, abraçando a farsa na esperança de que isso baste para mudar os planos do suicida.
Apesar dos anos de separação, é quase simbiótica a forma com que todo esse ciclo de falsidade acaba aproximando o trio novamente, complementado na desonestidade de Pedro consigo mesmo. Mais do que tentar convencer Ivan e Mariano de que está tão resoluto quanto tranquilo com a decisão de encerrar a própria vida, o personagem de Ramos quer convencer a si mesmo de que não está tomado por desespero, tristeza e solidão. E de que a tentativa de um último contato com duas pessoas que o marcaram não é um pedido de socorro, mas um convite à curtição.
Assim, disfuncional, o trio parte em um mergulho num passado irreal, visivelmente manchado pela vista turva do saudosismo, mas que, ironicamente, os força a encarar, de maneira ainda mais dolorosa, tudo que há de errado no agora. “45 do Segundo Tempo” veste a nostalgia de fuga, mas a revela como alerta. Ao lançarem um olhar exageradamente romântico sobre o ontem, Pedro, Ivan e Mariano veem o hoje tornar-se tão insuportável, que apenas duas respostas lógicas surgem dessa dor: a ressignificação ou a morte. Como um deles já fez sua escolha de forma antecipada, a decisão restaria só aos outros dois.
E é aí que o roteiro, assinado por Villaça e Leonardo Moreira, revela sua maior força: a injeção saudável de um certo cinismo, no típico idealismo romântico das comédias dramáticas. Se “45 do Segundo Tempo” conforta e inspira com uma mensagem bonita, como é de praxe no gênero, não é sem reconhecer que parte da beleza da vida está nas dores que suportamos e nos erros que superamos, mas que é direito do ser humano fazer sobre isso o seu próprio juízo de valor — podendo até escolher pôr um fim a este ciclo. Ao invés de estabelecer um confronto direto com a questão, posicionando o viver a sofrer como um estado compulsório do ser, o filme opta por retrucá-la com um lembrete: ninguém precisa passar por tudo sozinho e, enquanto o apito não soar, ainda há tempo para mudar o jogo.